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terça-feira, 31 de julho de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ANÁLISE DOS DADOS DO CENSO SOBRE RELIGIÃO NO BRASIL

*REDAÇÃO Genizah

BEPEC - Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã - libera análise inicial dos microdados do CENSO 2010 sobre religião


Crescimento evangélico: Diversidade e desaceleração


Os resultados do censo 2010 apresentam um vigoroso aumento da população evangélica no decênio 00-10: 61,45%. Entretanto, o crescimento não foi homogêneo entre os diversos grupos de evangélicos. Os pentecostais e a zona cinza (outros) apresentaram variação positiva mais robusta, já as principais igrejas protestantes históricas apresentaram retração, apesar de estarem agrupadas em uma linha classificatória do IBGE apresentando discreto crescimento.

Apesar do crescimento, as previsões anteriores à divulgação do censo eram muito mais otimistas. No final do ano passado a SEPAL - Servindo aos Pastores e Líderes -, entidade de apoio à liderança evangélica, divulgou uma projeção da população evangélica de 57,4 milhões para o ano de 2011 e 109,3 milhões para 2020, um tiro na água. Esta projeção foi bem aceita pela comunidade evangélica e mídia secular, apesar da ressalva de alguns observadores, com destaque para o pastor e blogueiro João Cruzué e Danilo Fernandes, editor do Genizah. Na tabela abaixo, observa-se a série histórica da população evangélica desde 1890, inclusas as variações percentuais e a taxa de crescimento anual composta (CAGR) da população evangélica que apresentou seu ápice no período 91-2000 – período marcado expansão maciça do teleevangelismo, das igrejas neopentecostais, da cultura evangélica e da estabilidade econômica – quando a população de evangélicos praticamente dobrou e a CAGR chega a quase os 8%, dando um salto na média histórica em torno dos 5%. 

Já no último decênio observa-se clara desaceleração discreta da CAGR da série. Para alguns analistas, uma tendência.

Católicos e Evangélicos


Na contra mão dos evangélicos, a população católica segue perdendo terreno desde o início da série histórica de censos a cargo do IBGE, em 1940, quando a participação dos católicos no país era de 95% e entra em queda livre desde o início da década de 80. Neste último decênio, o paraquedas parece ter aberto, mas a tendência ainda é de queda.
Mantidas as tendências atuais, as populações de católicos e evangélicos devem se encontrar entre os anos de 2032-2034.

Os grupos evangélicos no CENSO

O IBGE oferece nos instrumentos de coleta de dados dos censos muitas alternativas de pertencimento religioso para os recenseados, contudo não é possível imaginar que se possa acompanhar a dispersão da religiosidade brasileira, em especial a multiplicação (e a confusão no cenário teológico) denominacional evangélico.


A classificação dos evangélicos em grupos objetiva facilitar a apresentação dos resultados nas tabelas principais. Os critérios utilizados podem ser motivo de alguma crítica (em especial quanto se considera a pluralidade doutrinária), mas objetivam a análise de séries históricas.

As tabelas do CENSO, a princípio, destacam as denominações mais relevantes de cada grupo, mas não todas. Ademais, busca-se a consistência a fim de avaliar séries históricas, por consequência, nota-se a omissão do destaque de denominações importantes, agregadas em linhas “outros” e, em especial, percebe-se a ausência de destaque a grupos relevantes no cenário atual, como é o caso do formado pelas denominações neopentecostais, que estão incluídas na linha de “Outras igrejas Evangélicas de origem pentecostal”, mas também aparecem em linhas de duas denominações com série desde a década de 80 (Universal e Nova Vida), no grupo “Outras Evangélicas” e, provavelmente, em outras linhas claramente abrigando declarações dúbias, imprecisas, etc. Somente avaliando os microdados (o menor nível de desagregação dos dados do censo) é possível construir uma apresentação destacando a participação de um numero maior de denominações.

As igrejas evangélicas históricas em retração


O BEPEC – Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã irá disponibilizar uma série de análises feitas a partir dos microdados do CENSO 2010. Neste primeiro artigo focamos as igrejas “evangélicas de missão”.

Este grupo inclui destacadas as igrejas Luteranas, Presbiterianas, Metodistas, Batistas, Congregacionais e Adventistas, onde o plural se justifica pelas subdivisões existentes em todas estas confissões. No mesmo grupo na linha “outras evangélicas de missão”, temos: anglicanas, episcopais, menonitas, exército da salvação e outras.


De pronto, alguns irão questionar a presença da algumas igrejas de migração no grupo, como é o caso da igreja Luterana e Anglicana (ao menos no Brasil). Questionamento maior recai sobre a inclusão dos Adventistas, por questões doutrinárias. Finalmente, na linha dos “Batistas”, é sabido que li se encontram múltiplas convenções, grande ocorrência de comunidades “independentes” e uma diversidade teológica muito grande. Se fosse dada a opção explicita de declaração de pertencimento a algumas igrejas batistas de porte (a título de exemplo, a Igreja Batista da Lagoinha, hoje em diversas localidades) esta deveria estar, para todos os efeitos, entre os neopentecostais, ou no caso do arranjo oferecido pelo censo, no grupo de “outras igrejas de origem pentecostal”. O mesmo valendo para a maioria das “renovadas”, “avivadas” e congêneres.


A tabela a seguir mostra claramente que entre as igrejas de missão, mais comumente associadas à ortodoxia e ao protestantismo histórico observamos, de fato, um encolhimento de membros entre os CENSOS de ano de 2000 e 2010. Na verdade, em alguns casos, um encolhimento severo.


Os grupos que de fato cresceram e “empurraram” o conjunto no seu crescimento de 10,76% são justamente os Adventistas, uma confissão de fé muito distinta dos demais protestantes históricos e o grupo dos batistas apresentando uma diversidade doutrinária muito grande e um percentual presumidamente elevado de classificações de pertencimento muito distantes doutrinariamente dos batistas tradicionais.

Estes números confirmam as objeções apresentadas pelo BEPEC a diversos artigos da mídia secular que tiveram por base uma análise superficial do estudo publicado pela FGV – o mapa das religiões. Estes artigos apontavam, erroneamente, uma certa estagnação das denominações pentecostais e o maior crescimento das denominações tradicionais. Na ocasião, o BEPEC apresentou inúmeras ressalvas aos números apresentados – baseados na pesquisa amostral da POF - e a defesa da tese de retração nas denominações tradicionais.


Previsões para as denominações históricas

Os dados censitários de 2010 confirmam as conclusões apresentadas pelo BEPEC em 2011 e até agravam a expectativa de retração para algumas denominações, como é o caso dos congregacionais, anglicanos, presbiterianos e dos Luteranos que amargaram retração significativa.

Para Danilo Fernandes, diretor do BEPEC, esta retração pode ser uma tendência em reversão. “Podemos depositar nossa esperança na menor mobilidade confessional deste grupo e no crescente interesse da nova geração de protestantes históricos no aprimoramento do conhecimento teológico, como observados na significativa adesão do grupo às ofertas de eventos (congressos, seminários, etc.) e no interesse em pela produção literária.”

Fernandes deposita esperança na visível retração de algumas das grandes denominações neopentecostais, movidas por dissensões e escândalos e na popularização da teologia reformada entre os jovens que buscam conhecimento bíblico na internet. “A rota de muitos decepcionados com a igreja, os órfãos das promessas não cumpridas, é a ortodoxia. Esta não é a estrada mais ampla, mas é uma artéria importante, de formadores de opinião. O crescimento deste grupo têm alimentado nos últimos anos as igrejas tradicionais que sofreram sangrias na primeira metade do último decênio. Eu creio em um retorno. Ademais, é visível o grande crescimento de novas comunidades alinhadas com a teologia reformada. Estas novas igrejas não são contabilizadas no CENSO e na pesquisas amostrais na linha das igrejas de missão (entram na conta de 'outras evangélicas', contudo, teologicamente, se juntam às fileiras da tradição ”, opina Fernandes. “Agora, veja bem, estes são educated guesses de um presbiteriano otimista. Os números são os números e estes não são bons.”, admite Fernandes.


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