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terça-feira, 12 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

QUE SE REVELE QUEM “NÃO É”

Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve.
Malaquias 3:1
Por Joelson Gomes


Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve.
Malaquias 3:18
Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve.
Malaquias 3:18


"Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve" (Ml. 3.18).


É fato que em nossas igrejas existem muitas pessoas que entraram “pelas portas dos fundos”. Sim. Pessoas que chegaram à igreja apenas através de um “apêlo”, receberam a famosa “oração repita comigo”, ou que a familia já estava ali e então ela foi crescendo naquele ambiente e pronto. Nunca tiveram uma experiência de conversão; nunca sentiram o peso dos  seus pecados; nunca compreenderam a morte substitutiva de Cristo. Doutrina? Não sabem o que é isso.
O contingente desse tipo de pessoas nas comunidades evangélicas é muito grande, e aí quando se chega na igreja assim, não demora muito para se revelar o que realmente se é. Os hábitos mundanos revelam-se nas roupas (pessoas que se vestem pior do que os não cristãos), no linguajar (gente que quando abre a boca se parace com tudo, menos servo de Deus), nos gostos (gente que não suporta as coisas de Deus e passa seu tempo com coisas do mundo), e nos divertimentos.
 
As reuniões de jovens são o retrato disso, não existe ajuntamento para estudo bíblico (salvo em tudo isso raríssimas excessões) ou  para oração, mas quando se junta a mocidade e adolescentes é para cantar músicas egoncêntricas da moda (tipo minha bênção e eu sou abençoado e o sucesso do cantor mais conhecido), paquerar e brincar. No lazer, fazem sucesso os shows gospels, imitação dos shows mundanos (show significa mostra, quem faz show se mostra para a platéia), onde as pessoas vão não por Jesus ou coisa parecida, mas para ver o artista, porque se aquele show for feito por um conjunto desconhecido ninguém vai, só lota a casa se o cantor estiver na moda.  Os cartazes dos eventos promovidos pela juventude (e o cartaz de um evento é para trazer na capa bem grande o que os organizadores acham que vai atrair aquele público), mostram em fotos e desenhos o que está no gosto dos participantes. É sempre assim: fotos muitos grandes de algo estranho como alguém com skate, gente pulando, foto do grupo que vai cantar, desenhos coloridos, etc. Nada que remeta a oração, Biblia, contrição, pregação, Cristo, etc. Quem olhar o cartaz têm todas as ideias do mundo, menos ideias cristãs. Quando têm pregação, que alguns avisam que deve ser “reflexão”, um jeito educado de dizer “não pregue, não estamos aqui para isso”, as fotos dos pregadores vêm num cantinho bem pequenininhas, para não assustar.
E nessa época do ano (mês de Junho) um sem número de casas com nomes de igrejas, com o aval dos seus “pastores” fazem os famosos “arraía”, imitação barata de festa em louvor a São João do mundo católico romano. Ali, as pessoas se travestem como as quadrilhas vistas nas comemorações romanas, e botam umas bandas que se dizem cristãs (nem tudo que reluz é ouro), acendem fogueira simbolo maior do louvor a João, e tentam tocar forró. Mas, como o capeta cega quem faz o que ele gosta, o que acontece nesses lugares é algo assim: matutos falsos, festa junina falsa (porque eles dizem que não é festa junina), quadrilha falsa (porque ninguém dança com ninguém), forró falso (porque não existe nenhuma banda de crente que toque um forró de verdade). Enfim, um festival de música ruim e bebiba falsiê, uma visão do inferno.
Não, não existe nessas pessoas cujos gostos descrevi acima a mesma disposição para organizar um evento de pregação da Palavra de Deus (se tem? Cadê esses eventos de pregação lotados que não se vê?); disposição para participar no grupo de evangelização da Igreja (se tem porque os grupos de evangelismo são tão pequenos?); disposição para frequentar o culto de doutrina (se tem, porque os cultos de doutrina nas igrejas que ainda o fazem são tão pouco frequentados?); disposição para ser aluno da Escola Biblica Dominical (se tem porque as Escolas Biblicas das igrejas que ainda fazem têm tão pouca gente?). Não existe nessas mesmas pessoas disposição para gastar o dinheiro que gastam nesses eventos, com a obra missionária (pergunta ai você participante de show gospel, você gasta mais dinheiro nisso ou sustentando um missionário?).


É nessas e outras que se revela o que se é; cristão ou não. Se se serve a Deus ou ao mundo. Cristão tem hábitos cristãos, prazer nas coisas cristãs. Quando o prazer está na imitação do mundo, isso é um mal sinal. 
Ah, e antes de ficar com raivinha pergunte que sinal marca você?

terça-feira, 5 de junho de 2012


TITO 3.4-5 E A REENCARNAÇÃO

Uma tradução controvertida que Severino da Silva faz de Tito 3:4-5 em seu Analisando as Traduções Bíblicas, cap. XVII:
"Paulo, em sua epístola a Tito 3:4-5, interpreta bem esta citação do Cristo: ‘Mas quando apareceu a vontade de Deus, nosso salvador; e seu amor para com os homens, não por obras de justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua misericórdia nos salvou pelo lavatório da reencarnação, e pelo renascimento de um espírito santo’.
Aqui, Paulo deixa bem claro que Deus nos salvou não porque o tivéssemos merecido, mas por Sua misericórdia, servindo-se da reencarnação a qual é um ‘lavatório’ (de água) e um ‘renascimento do espírito’. A palavra grega do texto a que se refere Paulo é παλιγγενεσιας‘Palingenesia’ – isto é, ‘renascimento’‘Novo Nascimento’, REENCARNAÇÃO. [grifos do autor] "
É um argumento até bem organizado, mas que, visto de perto, revela sérias rachaduras. Em primeiro lugar, se uma das máximas espíritas é “fora da caridade não há salvação”, então como essa passagem afirma que as obras têm pouco valor na misericórdia divina? E, segundo, o mais interessante ainda aparece nos versículos seguintes:
que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador a fim de que, justificados por graça [misericórdia], nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.
Tito 3:6-8
Ele até diz que devemos ser “solícitos na prática de boas obras”, mas o que salta aos olhos é “somos justificados por graça”. Severino Celestino da Silva forçou a barra da reencarnação em um texto salvacionista! Analisou uma palavra e desviou a atenção do leitor para o contexto!!! Ah! É bom que se diga que a palavra “lavatório” não existe no original grego. Lá se lê loutron: “lavagem, banho” (λουτρον declinada para λουτρου, em gen-abl), mas não loutrôn (λουτρων, cujo gen-abl seria λουτρωνος).

E quanto ao sentido de Palingenesia? De fato, ela pode significar reencarnação, como é atestado no diálogo Menão (palin gignesthai), do filósofo Platão, mas como eram os demais usos dado a esta palavra? Quem define o significado de uma palavra é quem a usa, não os dicionários, que apenas registram seus diversos usos. O panorama, seja do texto ou social, é o que nos dá noção do real significado, do contrário temos uma inversão de raciocínio: em vez de analisar o texto para determinar se a realidade dos primeiros leitores possibilitava a presença da reencarnação em seu credo e a partir daí traduzir conforme seus conceitos, arbitra-se a existência dela no credo e a tradução é feita conforme tal prejulgamento.
Portanto, passemos à análise dos diversos valores que “palingenesia” pode assumir. Ela só aparece mais uma vez na Bíblia em Mt 19:28:
ὁ δὲ Ἰησοῦς εἶπεν αὐτοῖς, Ἀμὴν λέγω ὑμῖν ὅτι ὑμεῖς οἱ ἀκολουθήσαντές μοι, ἐν τῇπαλιγγενεσίᾳ, ὅταν καθίσῃ ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἐπὶ θρόνου δόξης αὐτοῦ, καθήσεσθε καὶ ὑμεῖς ἐπὶ δώδεκα θρόνους κρίνοντες τὰς δώδεκα φυλὰς τοῦ Ἰσραήλ.
Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, no tempo da regeneração, o Filho do Homem e assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.
O versículo se relaciona diretamente com o sentido escatológico do fim dos tempos. Este sentido escatológico aparece também na literatura pagã, em especial entre os filósofos estoicos. Fazia parte da doutrina dessa corrente, entre outras coisas, a crença em diversos ciclos nos quais o universo seria renovado. Assim escreveu o imperador romano Marco Aurélio em suas Meditações, livro XI, 1
ἔτι δὲ περιέρχεται τὸν ὅλον κόσμον καὶ τὸ περὶ αὐτὸν κενὸν καὶ τὸ σχῆμα αὐτοῦ καὶ εἰς τὴν ἀπειρίαν τοῦ αἰῶνος ἐκτείνεται καὶ τὴν περιοδικὴν παλιγγενεσίαν τῶν ὅλων ἐμπεριλαμβάνει καὶ περινοεῖ καὶ θεωρεῖ ὅτι οὐδὲν νεώτερον ὄψονται οἱ μεθ ἡμᾶς οὐδὲ περιττότερον εἶδον οἱ πρὸ ἡμῶν, ἀλλὰ τρόπον τινὰ ὁ τεσσαρακοντούτης, ἐὰν νοῦν ὁποσονοῦν ἔχῃ, πάντα τὰ γεγονότα καὶ τὰ ἐσόμενα ἑώρακε κατὰ τὸ ὁμοειδές.
E além disso, ela [a alma racional] percorre todo o universo e o vácuo circundante, e analisa sua forma, e se estende para o infinito de tempo, e abarca e compreende a periódica renovação do universo, e entende que os que virão após nós não verão nada novo, nem os que vieram antes viram algo mais, mas de certo modo, o quarentão, ainda que não tenha discernimento, viu tudo o que foi e o que será, em virtude da similaridade das coisas.
Sentido escatológico similar é o que deve ser entendido em (Mt. 19:28). Em outras partes não bíblicas da literatura judaico-cristã é possível “palingenesia” significando “regeneração”, “restauração”:
Agora que Zorobadel obtivera estas concessões do rei, ele saiu do palácio e, olhando para o céu, começou a render graças a Deus pela sabedoria que lhe dera e a vitória que tivera com isso, mesmo na presença do próprio Dario; visto que, disse ele,”Eu não tinha me julgado merecedor destas vantagens, ó Senhor, a menos que tivesses sido favorável a mim“. Então, quando já agradecera a Deus pelas presentes circunstâncias em que se achava e orara para que ele lhe proporcionasse como um favor o tempo vindouro, voltou para Babilônia e trouxe as boas novas sobre as concessões que conseguira do rei a seus compatriotas; que, assim que ouviram o mesmo, também deram graças a Deus que mais uma vez restaurou a eles a terra de seus antepassados. Então puseram-se a beber e comer, e por sete dias continuaram festejando, e mantiveram uma celebração pela reconstrução e restauração de seu país.[καὶ παλιγγενεσίαν τῆς πατρίδος ἑορτάζοντες]Extraído de Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas X, cap. III, parágrafo 9. Uma passagem que relata o fim do cativeiro de Babilônia e retorno dos judeus a sua terra, após a tomada deste reino pelos persas de Dario. Fontes grego-latinas disponíveis em Antiquitates Judaicae
E um exemplo do cristianismo primitivo:
Portanto, vamos render graças a Sua excelsa e gloriosa vontade; e implorando Sua misericórdia e bondade amorosa, enquanto deixamos todas as tarefas infrutíferas, e disputa, e inveja que leva a morte, vamos nos voltar a Sua compaixão e se valer dela. Vamos contemplar continuamente os que ministraram perfeitamente para Sua excelsa glória. Tomemos (por exemplo) Enoque, que, sendo reconhecido virtuoso em obediência, foi arrebatado e nunca foi sua morte registrada. Noé, sendo reconhecido fiel, pregou a regeneração (παλιγγενεσίαν) do mundo através de seu ministério; e o Senhor salvou através dele os animais que, harmoniosamente, entraram na arca.
I Carta de Clemente de Roma aos Coríntios, cap. IX
Não só o universo, o mundo ou nações podem sofrer um processo de “palingenesia”. Pessoas também podem sofrê-lo e ainda em vida. Diz-nos isso o político e orador romano Cícero, em sua coletânea de cartas a seu amigo Ático, mais especificamente na carta 6 do livro VI:
Amicorum litterae me ad triumphum vocant, rem a nobis, ut ego arbitror, propter hancpalingenesian nostram non neglegendam. Qua re tu quoque, mi Attice, incipe id cupere quo nos minus inepti videamur.
As cartas de meus amigos me convidam ao triunfo, uma coisa, em minha opinião, que não devo negligenciar em vista de minha restauração, Por isso, meu [caro] Ático, que tu também comeces a desejá-lo para que eu pareça menos tolo.
Na tradução foram desfeitos os plurais de modéstia comuns na pena de Cícero. As circunstâncias da carta representam o fim do proconsulado de Cícero na província da Cilícia, ao sul da atual Turquia. Fora a contragosto devido a um sistema de sorteio entre os magistrados e governou de 51 a 50 a.C., tendo se preparado para possível invasão dos partas (que acabou ocorrendo na Síria, mas foram repelidos) e feito pequena campanha contra tribos ainda hostis [Ferrero]. Aparenta ter feito bom governo, ainda mais quando comparado com a rapinagem praticada pelos demais governadores romanos. Foi-lhe decretado um triunfo por suas vitórias na ocasião de seu retorno à Itália. Cícero considerou seu retorno triunfal uma nova fase de sua vida, adotando a palavra “palingenesia” para defini-la e traduzida por certo erudito inglês como “nova etapa da vida”. Essa “palingenesia” para encarnados é a que melhor define a ideia contida em Tito 3:5, especialmente pela mudança de comportamento apresentada nos versículos que antecedem:
Lembra-lhes que devem ser submissos aos magistrados e às autoridades, que devem ser obedientes e estar sempre prontos para qualquer trabalho honesto, que não devem difamar a ninguém, nem andar brigando, mas sejam cavalheiros e delicados para com todos. Porque também nós antigamente éramos insensatos, desobedientes, extraviados, escravos de toda sorte de paixões e de prazeres, vivendo em malícias e inveja, odiosos e odiando uns aos outros.
Confrontando 3:1-3 com 3:6-8, fica claro que, para o autor de Tito, a mudança foi operada externamente por meio da graça. Se a plateia é composta de um grupo de prosélitos (o mais comum num cristianismo nascente), pouco sentido faz falar em reencarnação, pois experimentaram a mudança em vida. Aqui, o sentido de “palingenesia” está mais para o de Cícero que o de Platão, e mais conforme com a pregação paulina.

Talvez haja um fenômeno que já ocorreu antes, na transição do judaísmo para o cristianismo: a releitura. Passagens de um tipo de exegese estão sendo remodeladas para outra. Quando os tradutores da LXX usaram a palavra “parthenos” em Is 7:14 : “a jovem conceberá um filho”, eles usaram uma palavra que podia abarcar pelo menos três sentidos: “virgem”, “menina” e “mulher jovem”. Com observou Geza Vermes, o judaísmo do Segundo Templo possuía uma grande fluidez em seu conceito de “virgindade”: inexperiência sexual, ser ainda impúbere, ter concebido e dado filhos sem menstruação anterior, e o estado de pós-menopausa de da esposa de Abraão, como uma mulher que se tornara virgem pela segunda vez (segundo Filo de Alexandria). O que o cristianismo fez foi adotar seu sentido estrito e desprezar todas as demais possibilidades. Coisa que os espíritas estão fazendo novamente com “palingenesia”.

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Para saber mais:
1-  Ferrero, Guglielmo; Grandeza e Decadência de Roma, vol. II, Globo, 1ª ed., 1963, caps. IX – XI, p. 147-187.

2- Liddell, Henry George & Scott, Robert; A Greek-English Lexicon,παλιγγενεσία, versão eletrônica dePerseus Digital Library.

3- Vermes, Geza; As Várias Faces de Jesus, Record,1ª ed., 2006, cap. VI, p. 252-254