Joelson Gomes
I- Rm. 6: 4-6, não fala que o batismo é por imersão?
a. Não. Aliás, ali não nem do batismo com água, mas do Batismo com o Espírito Santo, como regeneração do pecador convertido. Se nós quiséssemos que a palavra “sepultados” no texto significasse imergido, teríamos que provar que a sepultura naquele época e local era colocar alguém em baixo da terra, e não era. Benjamin Scott informa que: “No período referido (período áureo de Roma) era costume entre os romanos cristãos queimar seus mortos e conservar somente as cinzas em urnas”.[1] Quando não os incineravam, eles sepultavam, mas não em buracos no chão; eles usavam cavernas para isso. Estas cavernas continham escavações em suas paredes para colocar os mortos. Fazendo uma descrição minuciosa de como os crentes de Roma usavam este método, Scott diz que...
... galerias escavadas, que eram usadas como esconderijo ou sepulturas exclusivamente por cristãos, como se depreende das inscrições e do fato de serem os mortos enterrados ali, inteiros, separadamente, em loculi ou sepulturas cavadas, e não reduzidas a cinzas amontoados em buracos ou poços, como eram os pagãos... As galerias muitas vezes têm dois ou três metros de altura e, de um a dois de largura, porém algumas vezes são menos espaçosas. Ao redor de nós, fileira sobre fileira, em sucessão sem fim, se observam túmulos... .[2]
b. Não só os romanos, mas os judeus também sepultavam assim (Jo.11: 38-40; Mt. 27:57-61).[3]Portanto, os romanos, e judeus, que receberam a declaração de Paulo, não entenderam a imagem feita pelo apóstolo, comparando o batismo a morrer e sepultar, como se isso necessariamente implicasse em colocar alguém debaixo da terra, e assim sendo, que para o batismo deveriam imergir alguém em um rio ou tanque. Os movimentos de “descer e subir” não estão implicados nas frases: “Fomos, pois, sepultados” e “o seremos na semelhança da sua ressurreição”, como querem alguns[4]para simbolizar o batismo por imersão. O crente é “sepultado com Cristo na morte” não no momento do batismo com água, mas no momento de sua regeneração, por isso este texto fala de regeneração espiritual.
Note que Paulo também diz que quem foi batizado com o tipo de batismo que ele fala em Rm. 6. foi plantado com Cristo e foi crucificado com Cristo. Ora como representa isso na forma de batismo? Se, ser sepultado com Cristo é ser imerso, ser crucificado é ser o que? Como representar?Assim, o que o apóstolo fala aqui não tem nada que ver como o batismo com água, mas sim, com a regeneração, pois é ai que o ser humano é crucificado com Cristo (Gl. 6:14), morre o velho para nascer o novo.
II- Jesus não entrou na água (Mt. 3: 16; Mc. 1: 9-10)?
a. Claro que sim, mas não diz os textos que ele foi imerso. Entrar na água se entra para ficar com água nos tornozelos, pela cintura, pelo pescoço, etc., mas não é obrigado se imergir. Valendo salientar que todas as imagens que se tem até hoje, as mais antigas sobre o batismo de Jesus, é sempre de um homem com água pelos tornozelos ou pela cintura, e um outro derramando água sobre sua cabeça.
III- E Filipe e o Eunuco?
a. Concluir que o uso das expressões “descer a água” e “subir da água”, (At. 8: 38-39) implica necessariamente em imersão é ter um pouco de pressa. Berkhof mostra que esta conclusão não é obrigatória por que:
Um estudo cuidadoso do uso que Lucas faz da preposição eis demonstra que ele a usou não só no sentido de para dentro, mas também no sentido de para, de maneira que é inteiramente possível ler a importante afirmação do versículo 38, da seguinte maneira: “E os dois desceram para a água, tanto Filipe como o eunuco, e ali Filipe o batizou”.[5]
Eles podem ter chegado à beira da água sim, mas nem sequer entrado nela. Portanto, por estas palavras não se estabelecem a imersão. E até concedendo-se que tivessem entrado na água, também não quer dizer que houve imersão por esse fato. Pois é sabido que nem todas as vezes que alguém entra em água necessariamente se imerge.
Além do mais, se se interpreta estas expressões ao pé da letra, isto implicaria que os dois desceram e se imergiram, pois o autor usa sempre o plural e não faz distinção. “A propósito, as palavras “desceram à água... não afirmam nada sobre sua extensão ou profundidade”. Pode estar implícito uma imersão total, mas, nesse caso, o batizador e o batizando seriam submersos juntos, pois a afirmação se refere aos dois”.[6]
Sendo assim, pelo exposto até aqui, o vocabulário do texto de forma nenhuma apóia a imersão como forma batismal para o eunuco. Não se decide o fato tentando forçar argumentos lingüísticos, deve-se levar em conta na interpretação da passagem que, sendo Filipe um judeu, conhecedor das tradições do seu povo, do uso que faziam da água para as purificações por aspersão, é improvável que tenha mudado a forma das purificações que a sua tradição baseada na Lei prescrevia.
IV- E a História o que diz?
Bem, na é possível estabelecer a imersão como forma do batismo baseado na história. Isto por que não existem evidências concretas preservadas. No que diz respeito ao rito do batismo praticado na Igreja Primitiva, a julgar pelos batistérios ocidentais e pela iconografia, o batizando entrava na água até a cintura. Recebia um jato de água ou mesmo o ministro do batismo derramava água sobre ele. Às vezes aparece um personagem impondo as mãos sobre a cabeça do batizando. [7] John Stott escreve sobre o fato:
Estamos longe de saber ao certo se os primitivos batismos eram feitos por imersão total; alguns quadros primitivos do batismo de Jesus, por exemplo, o retrata de pé dentro do rio, com água pela cintura, enquanto João Batista derrama água sobre sua cabeça. [8]
Assim, quem quiser usar a história para apoiar a forma imersionista de batismo, está usando dados incompletos, pois a mesma não esclarece este fato com precisão. “Não temos possibilidade alguma de reconhecer uma liturgia batismal do século I, pois falta-nos uma idéia precisa de como o batismo era administrado nas igrejas primitivas”. [9]
NOTAS
[3] “O enterro tinha lugar numa caverna natural ou artificial (sepulcro) (Gn 49.29-32; Jz 8.32). As cavernas naturais eram alargadas e providas de nichos ou prateleiras, onde os corpos podiam ser colocados para descansar”. GOWER, Ralph. Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos (Rio de Janeiro: CPAD, 2002), p. 72.
[4] “Imersão em água não representa adequadamente o sepultamento e a ressurreição de Jesus... no seu sepultamento, o corpo de Jesus não foi colocado por baixo da terra, mas anteslateralmente, em uma sepultura aberta em uma rocha, a qual tinha uma entrada que podia ser tapada com uma pedra (Mt. 27:60). Não cobriram o corpo com terra”. LANDES, Philippe. Estudos Bíblicos Sobre o Batismo; o Modo de Administrá-lo 2ª ed. (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1964), p. 39 (Grifo dele).
[5] Teologia Sistematica, p. 753 (Tradução minha). Para significados da partícula είς veja: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento, pp. 150-151.
[7] Vd. BERADINO, Ângelo Di (org). Dicionário de Antiguidades Cristãs (Petrópolis: Vozes, 2002), pp. 218-219.
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