DEVE-SE TER COMUNHÃO COM QUALQUER IGREJA?
C.H.Spurgeon |
Por C.H. Spurgeon
Em: Bom Caminho
Em tempos antigos, quando algumas das Igrejas de Cristo começaram a
livrar-se do jugo do Papado que pesava sobre seus pescoços, o argumento
usado contra a reforma era a necessidade de manter a unidade. "Você
precisa ser paciente com esta ou aquela cerimônia e com este ou aquele
dogma; não importa quão anticristão e profano. Você precisa ser paciente
quanto a isso, 'esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz'".
Assim falou a velha serpente naqueles dias antigos: "A Igreja é una;
ai daqueles que semeiam o cisma! Pode até ser verdade que Maria tenha
sido posta no lugar de Cristo, que as imagens são adoradas, que
vestimentas e trapos podres são reverenciados, e que o perdão é comprado
e vendido para crimes de todo tipo; pode ser que a assim chamada igreja
tenha se tornado uma abominação e uma moléstia sobre a face da terra;
mas ainda assim, ' esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz ', você deve curvar-se, reprimir o
testemunho do Espírito de Deus dentro de você, esconder a Sua verdade
sob um alqueire, e deixar a mentira prevalecer."
Este foi o grande sofisma da Igreja de Roma. Porém, quando ela não
pôde mais seduzir os homens falando de amor e união, ela passou a usar o
seu tom mais natural de voz, e amaldiçoou diretamente, a torto e a
direito, de todo coração: e manteve a maldição até que ela mesma expire!
Irmãos, não havia nenhuma força no argumento dos Papistas. Efésios
4:3 insta para que nos esforcemos em manter a unidade do Espírito, mas
não nos diz para manter a unidade do mal, a unidade da superstição, ou a
unidade da tirania espiritual. A unidade do erro, da falsa doutrina, da
tirania dos bispos, pode incluir o espírito de Satanás; não temos
nenhuma dúvida disso; mas que esta seja a unidade do Espírito de Deus
nós negamos veementemente. A unidade do mal nós devemos demolir com
todas as armas que nossas mãos puderem agarrar. A unidade do Espírito, a
qual devemos manter e nutrir, é outra coisa completamente diferente.
Lembrem-se que somos proibidos de fazer o mal para que venha o bem.
Mas conter o testemunho do Espírito de Deus dentro de nós, esconder
qualquer verdade que tenhamos aprendido pela revelação de Deus,
refrear-nos de testemunhar pela verdade de Deus e da Sua Palavra contra o
pecado e a tolice das invenções dos homens, todos estes seriam pecados
dos mais imundos. Não ousamos cometer o pecado de extinguir o Espírito
Santo, ainda que seja com a intenção de promover a unidade.
Certamente a unidade do Espírito nunca requer algum apoio pecaminoso;
ela não é mantida suprimindo a verdade, e sim apregoando-a por toda
parte. A unidade do Espírito tem como sustentação, dentre outras coisas,
o testemunho de santos espiritualmente iluminados com relação à fé que
Deus revelou em Sua Palavra. Aquela unidade, é uma unidade totalmente
diferente que amordaçaria nossas bocas e nos transformaria em gado
imbecilmente dirigido, para ser alimentado e depois abatido ao bel
prazer de mestres sacerdotais.
O Dr. McNeil disse, acertadamente, que dificilmente um homem pode ser
um Cristão sério em nossos dias sem ser um controversista. Somos
enviados hoje como ovelhas para o meio de lobos. Pode haver acordo?
Somos acesos como luminares no meio da escuridão. Poder haver
conciliação? Não foi o próprio Cristo que disse, "Não penseis que vim
trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada"? Vocês compreendem
como esse é o mais verdadeiro método de esforçar-se para manter a
unidade do Espírito; porque Cristo o homem de guerra, é Jesus o
Pacificador; mas para a criação de paz duradoura, espiritual, as
falanges do mal devem ser destruídas, e a unidade das trevas arrojada em
tremor.
Peço sempre a Deus que nos preserve de uma unidade na qual a verdade
seja considerada sem valor, na qual princípios dêem lugar à políticas,
na qual as virtudes nobres e varonis que adornam o herói Cristão tenham
que ser completadas por uma afetação efeminada de amor. Que o Senhor
possa nos livrar da indiferença para com a Sua Palavra e vontade; porque
isso cria a unidade fria de massas de gelo unidas em um iceberg,
esfriando o ar por milhas ao redor, a unidade dos mortos enquanto dormem
nas sepulturas, lutando por nada, porque não têm parte nem herança em
tudo aquilo que pertence aos viventes. Há uma unidade que raramente é
quebrada: a unidade dos demônios que, sob o serviço do seu grande mestre
e senhor, nunca discordam nem disputam. Protege-nos desta terrível
unidade, ó Deus dos céus! A unidade dos gafanhotos que têm um objetivo
comum, com a sua glutonaria que arruína tudo ao seu redor; a unidade das
ondas de fogo de Tofete, que arrasta miríades para a miséria mais
profunda. Disso também, ó Rei dos céus, livra-nos para sempre!
Que Deus perpetuamente nos envie algum profeta que clame em alta voz
para o mundo: "Sua aliança com a morte será anulada, e seu acordo com
inferno não permanecerá". Que sempre tenhamos alguns homens, mesmo que
sejam ásperos como Amós, ou austeros como Ageu, que denunciem sempre de
novo qualquer associação com o erro e qualquer acordo com o pecado, e
declarem que estas coisas são abomináveis para Deus.
Nunca imaginem que a contenda santa seja uma violação de Efésios 4:3.
A destruição de todo tipo de unidade que não está baseada na verdade é
uma preliminar necessária à edificação da unidade do Espírito.
Precisamos primeiro derrubar estas paredes feitas de argamassa ruim –
estes muros cambaleantes construídos pelo homem – para que possa haver
espaço para as excelentes rochas dos muros de Jerusalém colocadas umas
sobre as outras para uma permanente e duradoura prosperidade.